Campanha da Abav reverteu taxa de 85% de cancelamento de viagens no Brasil

Depois de chegar a registrar uma taxa de cancelamento de 85% dos pacotes turísticos no país, no começo de março, a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) comemora ter conseguido reverter esse quadro e evitar um rombo ainda maior para o setor em meio à crise causada pelo novo coronavírus.

“Esses gargalos foram sanados graças ao trabalho da Abav junto ao Ministério do Turismo e ao Procon, ainda no começo. Fizemos uma campanha ampla, pedindo para que as pessoas não cancelassem, mas, sim, adiassem suas viagens”, diz.

“Todo mundo se uniu para não penalizar nossos clientes, porque as companhias aéreas e os hotéis cobram multa por cancelamento”, salientou Guilherme Paulus, VP de Relações Institucionais da Abav durante a Live do Tempo desta segunda-feira (18).

Segundo Paulus, a taxa de cancelamento de viagens foi muito pequena após a realização da campanha.

“Foram poucas pessoas que, de fato, cancelaram as viagens depois dessa iniciativa nossa. Tem muita gente também que, por exemplo, mudou seu roteiro da Europa para o Brasil. A campanha foi muito bem feita, muito bem bolada e deu muito certo”, comemora Paulus.

Retomada gradual

No entanto, a Abav ainda evita falar sobre quando o turismo vai voltar a se aquecer no Brasil, mas destaca que muitas pessoas já estão comprando viagens para o segundo semestre de 2020 em destinos que já “reabriram”.

“Não dá para fazer previsão sobre o futuro ou de quando os agentes vão voltar a faturar no mesmo nível do ano passado, por exemplo. Mas tem muita gente já comprando passagem para julho, agosto, setembro em destinos como Gramado”, revela.

Segundo ele, o novo normal após a pandemia já fica evidente nas ocupações dos hotéis.

“Nesse caso de Gramado, por exemplo, temos um hotel de charme lá, pequeno, com 20 apartamentos, onde a ocupação máxima só vai poder ser de 50%, ou seja, só dez apartamentos. Então, a venda está ocorrendo, não como antes, é claro, mas as pessoas estão se programando, elas vão continuar a querer viajar”, analisa Paulus.

Confira outros trechos da entrevista:

Quais foram, até o momento, os impactos da pandemia no faturamento, em demissões, no turismo, nos eventos de negócios? Qual é o termômetro da Abav atualmente? Estamos sofrendo muito, como todos os segmentos no mundo todo, não só no Brasil. As agências de viagem, claro, sofrem bastante porque os clientes não estão procurando as lojas porque elas estão fechadas, está todo mudo parado. Está todo mundo trabalhando em homework. É a grande novidade da pandemia hoje são os novos recursos estão aparecendo. O homework hoje mudou um pouco a história, o mundo vai mudar muito, está mudando com essa pandemia da Covid-19. Acho que é o momento de os agentes de viagem voltarem à década de 1970, quando praticamente nós procurarmos os clientes para oferecer viagem. É um recomeço, de você aproveitar as experiências que temos como agentes de viagens e formatar, não só pela internet, mas o agente de viagem tem um papel fundamental principalmente para a viagem das famílias. É claro que tem o problema – estamos solucionando -e o governo federal tem trabalhado bastante para ajudar. O próprio Ministério do Turismo também. Nós conseguimos uma verba muito grande, de R$ 5 bilhões, através do Fungetur, que está no Ministério do Turismo, e que vai ser distribuído para os agentes de viagem, e também para outros segmentos, como bares, restaurantes, que vai atender uma parte até a retomada novamente de todo o segmento turístico brasileiro.

Na semana passada, uma operadora de turismo estava oferecendo um pacote para Porto Seguro a R$ 589, com sete dias de hospedagem, translado e aéreo. Concorrência, promoção, guerra tarifária, esse vai ser o caminho das agências de viagem quando a pandemia der uma trégua? As promoções das empresas aéreas, porque você tem uma ocupação dos assentos das companhias aéreas, e as agências de viagens aproveitam esse momento, você pode ver que há várias ofertas, uma passagem para Porto Seguro deve estar em torno de R$ 320, mais hospedagem para sete noites, os hotéis também estão fazendo promoção, porque é o início. Acho que você tem a retomada, você tem que realmente oferecer produtos que tenham condições de voltar ao hábito de viajar. Muita gente está parada dentro do seu apartamento ou da sua casa, se resguardando contra a Covid-19 e de repente aparece essa oportunidade, Porto Seguro, Gramado, Foz do Iguaçu são destinos turísticos fortíssimos no Brasil e hoje já estão abrindo as suas portas. Então, acho que é um recomeço, uma retomada. As promoções vão aparecer, como tem vários tipos de promoções em todo o segmento, o varejo tem feito muito isso. E o turismo sempre acompanhou muito o varejo. Acho que é o momento oportuno. Principalmente em viagens com distâncias curtas, por exemplo, de Belo Horizonte para Porto Seguro é menos de uma hora de voo.  Até duas horas de voo, as passagens aéreas vão estar muito em conta, vão ter muitas promoções para essas viagens. Porto Alegre, por exemplo, tem a Serra Gaúcha, também tem promoções muito boas. Você tem de Salvador para Recife, para Porto de Galinhas. Tem várias promoções, as companhias aéreas estão começando a abrir essas promoções. Então, isso é muito importante. E as agências de viagem junto com a hotelaria, conseguem criar condições para as pessoas começarem a viajar.

As agências trabalham com um tradding muito amplo, têm que lidar com a companhia aérea, com o setor de hotelaria, com receptivos e até com os eventos que acontecem nas cidades turísticas. Como vai ser gerenciar isso tudo na retomada? Cada um está com uma particularidade, com um prejuízo gigantesco. Como vai ser essa unidade para uma retomada e qual o cronograma que vocês pensam nessa retomada, quando vai poder vender efetivamente pacote de viagem? Todo mundo está olhado os seus custos, hoje é uma retomada, é o início de uma nova era. As próprias companhias aéreas têm olhado muito os custos, agora o governo federal já abriu as portas para acudir as empresas aéreas.  O próprio Ministério da Turismo também está ajudando os hotéis. E as próprias agências de viagem também. Nós temos condições de ter uma retomada. Claro que vai ser gradativa, O ganho de confiança. Enquanto não tivermos a vacina, nós temos que nos adaptar. Todas as cidades turísticas estão com uma preocupação muito grande também. Todas elas têm seu protocolo. Para você fazer essa retomada gradativa, não só no setor de viagens, mas também no setor de eventos. E o próprio Convention Bureau dos Estados têm trabalhado muito forte para ter uma retomada tranquila e que as pessoas voltem a ter a sua tranquilidade de ter seus passeios completos, suas viagens bem mais tranquilas, saudáveis. Acho que a importância do agente de viagem hoje é a retomada que estamos tendo. Essa ajuda do Ministério do Turismo junto com a Abav, nessa parceria forte que estamos tendo com todas as Abavs nacionais, então, os agentes de viagens do Brasil inteiro estão hoje muito bem assistidos. As agências são criativas, vão se procurando alternativas. Hoje, viajar com o seu carro essas distâncias curtas é muito bom. Em Minas, tem um aspecto, principalmente o turismo interno é muito forte. Vão começar a se descobrir novos roteiros, como se fazia antigamente, as viagens de ônibus serão retomadas. Estamos fazendo um trabalho junto ao Ministério do Turismo para que o turismo rodoviário volte com muita força. E principalmente se utilizado os ônibus de linhas regulares. Como se vende passagem de avião, vai se vender passagens de ônibus com assistência nas estações rodoviárias, o receptivo indo receber os turistas junto com o guia e levando para o hotel, fazendo o tour. A geração de emprego e renda vai continuar muito forte com o turismo. Uma das principais atividades econômicas do mundo é o turismo. Ele movimenta 52 setores da economia. A própria retomada da Itália é pensando no no verão europeu.

Quantas agências nós temos atualmente, quantas encerraram atividades? E as demissões no setor? Quanto as agências empregam no Brasil e quanto que essa força de trabalho foi perdida? Esse levantamento nós estamos fazendo na Abav ainda, nós não temos. Hoje, são mais de 35 mil agências de viagens no Brasil. Sobre as demissões, as pessoas vão se adaptando, as agências vão se adaptando. Muitas delas estão se transformando em homework. Nos Estados Unidos, isso é uma coisa muito normal e natural. A experiência do agente de viagem vai permitir que ele continue trabalhando em sua casa. Ele vai continuar acessando seus próprios clientes. Os restaurantes de delivey estão conseguindo sobreviver. Alguns vendendo a mesma quantidade de antes, mas com uma despesa muito menor, custo de lavagem de toalhas, de pratos, talheres, consumo de energia, diminuiu muito, O agente pode continuar trabalhando em casa, dando assistência aos seus clientes. O turismo na década de 1980 e 1990, os agentes é que procuraram pessoas, montavam programações e iam mostrar em clubes, associações. E iam vender para conhecidos, familiares. De repente, com um consumo muito grande, os turistas procuravam as agências. Era mais fácil ir ao shopping center, pela comodidade, segurança. Muitas agências de viagens montaram lojas em shoppings. Agora nós é que vamos ter que criar nossa carteira, criar as facilidades para as pessoas poderem viajar. Vai ter essa mudança no mercado.

Hoje em dia, o online ficou muito forte. Só que as agências online são as principais concorrentes das agências físicas. Como essas vão se comportar quando essa pandemia der trégua? o agente de viagem se adapta rapidamente a esse mundo porque o mundo do turismo é um mundo de vendas, vendas de satisfação e prazer. E vender viagem é a coisa mais fácil do mundo. Mas todo mundo que você convida para uma viagem, a pessoa não diz não, mas pergunta quando. A viagem de família é diferente, o agente vai te dar todas as dicas. Por mais que você tenha todas as facilidades da internet, o cliente gosta do olho no olho. O agente explica o roteiro, detalhes do hotel, horário de voo, os passeios, dar sugestões de viagens, a assistência é completa. Pela internet, se der um problema de atraso de voo, hotel em overbook, você fica a ver navios. Quando você tem um agente, você liga para ele, é automático, meu voo atrasou, extraviou minha bagagem. Esse é o papel importante do agente de viagem no mundo todo,

Crises trazem mudanças de alguns hábitos. Essa deve privilegiar o turismo regional, mas também pela questão do câmbio, com o dólar muito alto. Você acha que a retomada vai começar pelo turismo local? E que tipo de turismo vai ser mais beneficiado, as praias, Minas Gerais, que tem opções boas também? Sem dúvida nenhuma, o turismo interno vai ser fortíssimo, porque mesmo as viagens de luxo para a Europa ou mesmo para os Estados Unidos, a pessoas vão viajar internamento, porque as fronteiras ainda não estão abertas. Deve durar pelo menos seis meses. Esse trabalho do turismo interno vai começar fortíssimo no Brasil. A hotelaria brasileira está muito bem preparada. Hotéis, resorts, vários tipos com conforto extraordinário para o lazer. Viagens com até 500 km vão ser um sucesso, porque as pessoas se sentem mais seguras e vão sair com carros. Uma facilidade também são com as locadoras, de poder alocar um automóvel para não desgastar o seu carro. Esse é o trabalho que o agente vai voltar a fazer, de oferecer esse tipo de viagem. Nós temos roteiros incríveis no Brasil. Queria ressaltar uma notícia que para n[os, agentes de viagens, que é o novo secretário, Leônidas Oliveira, assumindo a Secretaria de Turismo de Minas. Nós temos Inhotim que é um espetáculo. Nós temos aspectos cultural e de lazer excecionais. É um trabalho que podemos realizar tranquilamente. Acho que a retomada do turismo está muito voltada para esses novos roteiros.

Minas pode ser uma protagonista nesse cenário nacional, nessa retomada no pós-pandemia. Tem alguma coisa que falta em Minas para que o turismo tenha mais importância? Minas precisa voltar a dizer que existe. Acho que o Leônidas (Oliveira, secretário de Cultura e Turismo em Minas), vai fazer um trabalho excepcional porque ele é um homem da área de turismo, já passou pela Embratur, embora tenha sido uma passagem muito rápida, já passou pela Belotur, ele sabe, é uma pessoa que entende de turismo, sabe como fazer. E tem o apoio total hoje do Ministério do Turismo está dando muito apoio, principalmente em retomada de destinos turísticos. Acho que vai ser um grande trabalho. Minas está a menos de 500 km de São Paulo, mas você tem o roteiro das serras, tem São Lourenço, Caxambu, você pode retomar esses roteiros, que são maravilhosos, o clima é maravilhoso. Sem contar que você tem Ouro Preto, que é um dos berços históricos nossos, Diamantina… Você tem aspectos turísticos muito grandes, Serro, a própria cidade de Belo Horizonte, que é encantadora. E aquela rota da cachaça que eu acho que é muito importante. Se você tem a rota do vinho na Serra Gaúcha, você tem a rota da cachaça em Minas, que é um negócio espetacular também. Os barzinhos de Belo Horizonte, todo esse aspecto turístico da cidade você vai voltar a movimentar. Só é lembrado quem é visto, acho que é o trabalho do Leônidas realmente fazer Minas aparecer em todo o Brasil. Esse trabalho não é difícil de ser feito.

Outra preocupação que o setor deve ter é se vocês estão elaborando algum tipo de cartilha, de protocolo de segurança para a retomada de todos os setores envolvidos. Uma coisa que não deve ser fácil nessa retomada são os hotéis, resorts, como vão trabalhar com self service, vai ter que repensado isso. Também a disposição dentro das aeronaves. Vocês estão elaborando esses protocolos? Sim, as empresas aéreas estão soltando. A Latam soltou sobre higienização, a Gol soltou sobre espaçamento de poltronas maior. Existe uma preocupação muito grande nessa retomada. Enquanto não tivermos realmente uma vacina, todos esses cuidados vão ser necessários. Muitos hotéis vão voltar com aquele café continental (café, leite, pão, manteiga ou torrada). Refeições, hotéis pequenos poderão fazer por turnos, igual navio. Das 19h às 20h30 um turno, das 20h30 às 21h30, outro turno para jantar. Self service, vai ter que ter uma forma na frente da comida, uma pessoa do outro lado para servir. Vai apontar eu quero isso, aquilo. E a pessoa vai colocar no prato, devidamente paramentada com luva, máscara. Os apartamentos totalmente higienizados, na recepção todo mundo trabalhando com máscara, álcool em gel em todos os ambientes. Todo esse cuidado vai ter que ser tomado. No nosso hotel em Gramado, estamos com todos esses cuidados, como arrumar o apartamento, a limpeza. Esse cuidado é muito importante, será prática natural hoje dentro da hotelaria, das companhias aéreas, dos carros, tudo higienizado. É uma nova era, uma nova experiência.

O setor de turismo é importante para o PIB, para a economia brasileira, é um setor que emprega muito, tem milhões de vagas, além da renda que ele gera. Como o emprego no setor está sendo afetado e quando tiver essa retomada, que deve ser escalonada, como será a retomada do emprego. Terá um impacto muito forte a curto prazo e quando que isso vai melhorando? A princípio, nós vamos ter realmente, um hotel que tem 200 apartamentos, ele vai ter uma ocupação de, se a média hoteleira brasileira, no ano passado, foi de 70% de ocupação, digamos que a partir de julho nós vamos ter uma retomada. Uns estão dizendo a partir de setembro, vamos por, numa média, que seja agosto, não vai conseguir funcionar com 70% de novo. A retomada vai ser gradativa, porque, mesmo o transporte aéreo de três companhias, elas não vão conseguir voar com a sua capacidade igual no ano passado. Ela vai voar também com pelo menos 50% a menos. Vamos ter uma parte de desemprego que vai ser adaptado. Em uma das crises, um dos grandes bancos brasileiros dispensou mais de 100 mil pessoas, depois de três, quatro meses, estava todo mundo empregado de novo. Boa parte disso. Essa retomada de emprego vai ser gradativa.

Fonte: O tempo